Britânico era considerado um dos maiores especialistas em História militar de sua geração
RIO – Considerado um dos maiores especialistas em História
militar de sua geração, o britânico John Keegan morreu de causas não reveladas
nesta quinta-feira, aos 78 anos, em sua casa em Kilmington, na Inglaterra.
Embora nunca tenha servido as forças armadas ou sequer pisado em um campo de
batalha – aos 13 anos ele contraiu uma tuberculose ortopédica que fez com que
passasse os nove anos seguintes entrando e saindo de hospitais -, Keegan
escreveu mais de 20 livros sobre o assunto, incluindo a obra-prima “A face da
batalha”.
Nascido em 15 de maior de 1934 em Londres, Keegan, assim como outras crianças
inglesas, foi evacuado para o interior do país para fugir da “blitz” alemã de
1940, sendo deixado na cidade de Taunton. Por coincidência, Taunton também virou
base das tropas americanas que se preparavam para invadir a Normandia e o jovem
Keegan ficou fascinado com a movimentação. Anos mais tarde, ele escreveu que
pôde ouvir os aviões de guerra partindo com paraquedistas para a França na
véspera do ataque.
O trabalho de Keegan atravessou séculos e continentes, traçando a evolução da
guerra e das tecnologias de destruição sempre tendo em mente duas constantes: os
horrores do combate e o custo psicológico que os soldados têm que enfrentar.
Keegan tinha especial interesse pelas raízes culturais da guerra e por que o
homem briga. Em seu clássico estudo “Uma história da guerra”, publicado de 1993,
ele argumenta que os conflitos militares eram um ritual cultural do qual a noção
moderna de guerra total, como a Primeira Guerra Mundial, tornou-se uma
aberração.
Entre os tópicos que abordou ao longo da carreira estão as conquistas de
Henrique V e Napoleão, além da construção da máquina militar de Hitler. Mas
Keegan também abordou a guerra na era nuclear, concluindo em “A face da batalha”
que as armas atômicas tornaram impensável uma guerra total. “A suspeita cresce
de que a batalha aboliu a si mesma”, escreveu. Já em “A guerra do Iraque”,
publicado em 2004, Keegan seguiu a revolução tecnológica da guerra com a entrada
em operação de armas “inteligentes” guiadas por computadores. No livro ele
também fez seu julgamento político da guerra que a invasão do Iraque para
derrubar Saddam Hussein era justificável.
Mas nenhum de seus livros é mais admirado do que “A face da batalha”, originalmente publicado em 1976. Logo na introdução, Keegan reconhece: “nunca estive em uma batalha, nem perto de uma, nem ouvi uma de longe, nem vi seu desenlace. Eu questionei pessoas que estiveram em batalhas, caminhei em campos de batalha, li sobre batalhas, claro, falei sobre batalhas, dei palestras sobre batalhas e, nos últimos quatro ou cinco anos, tenho visto batalhas em progresso, ou aparentemente em progresso, na tela da televisão”. No livro, Keegan analisou três batalhas: a de Agincourt, em 1415, a de Waterloo, em 1815, e a do Somme, em 1916, todas envolvendo tropas inglesas. Sua avaliação do que acontece no calor da batalha, incluindo a execução de prisioneiros, é sombria.
FONTE: O Globo/poder terrestre
Descance em paz bravo mestre
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