Fernando Exman
O governo federal quer aproveitar a viagem que
a presidente Dilma Rousseff fará nesta semana à África para tentar reforçar
ainda mais a presença das empresas brasileiras na região. O desafio, entretanto,
é grande: além do desconhecimento de parte considerável do empresariado sobre as
potencialidades do mercado africano, as empresas brasileiras precisam enfrentar
a concorrência de outras companhias estrangeiras, principalmente da China. Está
em jogo um mercado de aproximadamente 1 bilhão de consumidores, com demanda em
alta pelos mais vários tipos de bens e serviços e um crescimento econômico
superior à média mundial.
Dilma participará na sexta-feira da cúpula América do Sul – África (ASA), em
Malabo, Guiné Equatorial. O tema do encontro é justamente o fortalecimento da
cooperação entre países em desenvolvimento. Em seguida, ela desembarcará na
Nigéria, parceiro considerado estratégico no continente.
“A China tem ganhado participação na África. Mas, em termos de comércio, o
crescimento da participação da China na África não é em detrimento da
participação brasileira. O Brasil também cresceu seu “market share” em
detrimento de outros”, disse a secretária de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento, Tatiana Prazeres, destacando que a participação do continente
africano nas exportações brasileiras passou de 3,9% para 5% entre 2003 e 2012 e
as importações permaneceram em 6% do total no mesmo período.
Na avaliação de autoridades brasileiras, a oferta de linhas de crédito vem
tendo um papel estratégico na disputa pelo mercado africano e os ambiciosos
programas de financiamento da China têm feito a diferença. Como consequência, um
grupo de trabalho coordenado pela Presidência da República discute novas formas
de impulsionar o comércio com o continente africano. Um dos aspectos discutidos
é o lançamento de mecanismos de financiamento.
Em 2010, registra um estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
Comércio Exterior, a China substituiu o Banco Mundial (Bird) como principal
fonte de financiamento dos países africanos. Entre 2001 e 2010, os empréstimos
concedidos à África pelo Exim Bank chinês, instituição voltada ao fomento às
exportações e importações do país asiático, foram estimados em US$ 67,2 bilhões.
Já os financiamentos do Banco Mundial nesse mesmo período totalizaram US$ 54,7
bilhões.
O próprio Banco Mundial já analisou a questão. No relatório “Construindo
pontes: O papel crescente da China como financiadora da infraestrutura da África
Subsaariana”, de 2009, o Bird mostrou que o crescimento do comércio entre a
China e a África foi acompanhado por uma maior ajuda econômica oferecida pelo
país asiático a partir de 2001. Em contrapartida, diversas obras de
infraestrutura executadas pelos chineses na África têm como garantia ou são
pagas com petróleo, minério de ferro, cromo ou cacau, diz o Bird. Hoje, a China
é o principal fornecedor do continente, e encontra na África um destino para os
seus produtos de alto valor agregado. O país asiático também se consolida como o
maior comprador de produtos africanos, ultrapassando os Estados Unidos.
A China demonstra que pretende manter tal papel. Em agosto de 2012, anota o
estudo do Ministério do Desenvolvimento, o país anunciou a concessão de crédito
de US$ 20 bilhões em três anos para projetos de infraestrutura, agricultura e
desenvolvimento na África.
Num ritmo mais tímido, o Brasil também tem disponibilizado apoio às
exportações à região. Entre 2008 e 2012, por exemplo, o valor desembolsado por
programas oficiais alcançou US$ 4,8 bilhões.
O Brasil ainda mantém uma série de programas de cooperação técnica com o
continente. Cerca de 150 iniciativas em aproximadamente 40 países são mantidas
pelo Brasil, segundo o Itamaraty.
Outro sinal da maior aproximação entre o Brasil e a África é o crescimento do
total de empresas brasileiras que atuam no comércio bilateral. Enquanto o total
de empresas brasileiras exportadoras caiu nos últimos anos, o número de empresas
que vendem para a África subiu 39% entre 2003 e 2012, para 3.810. Já as empresas
que importam produtos africanos totalizaram 1.739 em 2012, alta de 84%.
O Ministério do Desenvolvimento também prevê uma alta nas exportações de
serviços por parte de empresas brasileiras e, consequentemente, uma elevação dos
embarques de bens relacionados a esses projetos. Nas contas do ministério, cada
US$ 100 milhões em exportações de serviços geram US$ 30 milhões em exportações
de equipamentos e outros produtos.
“Esses investimentos brasileiros na África puxam consigo exportações de bens
que de outra maneira dificilmente ocorreriam”, afirmou Tatiana Prazeres,
destacando ser uma característica da balança comercial Brasil-África a atuação
de “trading companies” de propriedade das construtoras brasileiras. “As
exportações são feitas por uma empresa, a comercial exportadora, que traz
produtos de empresas de menor porte.”
FONTE:
Valor Econômico, via resenha do EB
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