Ações de Comandos
Por: Paulo Zamboni
Apesar do título de seu livro ser Ações de Comandos - Operações especiais, comandos e o futuro da arte da guerra norte-americana, o autor James Dunnigan dedica uma parte considerável do trabalho à análise do conceito histórico de comandos e unidades especiais e seu emprego por vários impérios e países do mundo, e não apenas aos norte-americanos.
Assim, por exemplo, o autor descreve desde os guerreiros persas da antiguidade, passando pelos soldados otomanos, pela cavalaria americana em luta contra as tribos de índios, pelos colonizadores Bôer na África do Sul – responsáveis por uma das maiores lições militares que os ingleses levaram em todos os tempos, e que eles demonstrariam aprender muito bem –, chegando à Primeira Guerra Mundial, onde aborda o bem sucedido uso de táticas guerrilheiras e de comandos por forças alemãs na África Oriental e na Europa. [*]
Dunningam relata as várias formações de comandos utilizadas pelos contendores durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo também uma rápida avaliação das principais guerrilhas, país a país, e de como os americanos e ingleses se envolveram no apoio aos movimentos guerrilheiros na Europa e Ásia.
Os alemães novamente são citados pelo autor como hábeis usuários de ações de comandos – operacionalizando ataques de paraquedistas e das unidades Brandenburgo, sendo estas responsáveis por criar o conceito de forças militares de elite com objetivos estratégicos, algo que posteriormente faria parte das atividades dos comandos americanos – além dos ingleses, responsáveis pela formação e uso de várias unidades especiais durante e depois da Segunda Guerra Mundial, servindo de inspiração para os americanos aperfeiçoarem suas próprias unidades especiais.
Os primeiros anos do pós-guerra pareciam indicar que os comandos teriam seu papel eliminado ou grandemente reduzido, inclusive pelo fato de que eles, pelas suas peculiaridades, não eram bem vistos pelos oficiais comandantes mais ortodoxos, mas a Guerra Fria e o surgimento de conflitos com os soviéticos e vários de seus estados-satélites gradualmente mudou essa situação. Data dessa época também o estreitamento de uma parceria iniciada durante a Segunda Guerra Mundial e considerada de grande importância, entre os comandos e os serviços de inteligência, especialmente a CIA, no caso americano.
O autor chama a atenção para como os americanos, que tiveram larga experiência com o enfrentamento e uso de guerrilhas antes e durante a Segunda Guerra, preferiram negligenciar isso, o que resultou em sérios problemas durante a guerra do Vietnã, quando tiveram de reavaliar suas táticas empregadas contra os comunistas. Nesse conflito, considerações políticas e rivalidades militares limitaram o potencial dos comandos, que mesmo assim tiveram muito sucesso em suas ações na região.
O tópico dedicado à participação dos EUA no Vietnã e na Indochina descreve as táticas, unidades e efetivos empregados naquele complicado teatro de guerra, particularmente no Laos. Lá, as ações de comandos americanos em conjunto com guerrilheiros nativos montanheses contra forças comunistas muito superiores numericamente revelou-se uma das experiências de maior sucesso em toda a história deste tipo de atividade, mostrando que o segredo dos chamados “soldados perfeitos”, longe de serem os números, é o treinamento perfeccionista, a capacidade de interagir com outras unidades militares e especialmente com os habitantes locais, além da iniciativa superior.
A partir da década de 1980, os comandos americanos foram agrupados sob uma única organização diretiva, potencializando seu alcance, o que se revelou positivo especialmente desde os ataques terroristas contra os EUA em 11 de setembro de 2001.
O uso de comandos numa região que tem a fama de ser historicamente difícil para intervenções militares estrangeiras, o Afeganistão, é um dos capítulos mais reveladores do livro, pois demonstra que o tema “guerra no Afeganistão” é cercado por vários mitos, um dos principais afirmando que o país é “inconquistável”, algo que o autor demonstra ser equivocado, dentre outras razões, porque o Afeganistão é muito mais uma “terra de ninguém”, uma região sem fronteiras definidas, do que um país propriamente dito.
Ao mesclarem a experiência histórica sobre “o que não fazer”, aprendida no Vietnã, com agilidade, objetividade, inteligência e material de primeira qualidade, como satélites espiões, “bombas inteligentes” e pequenos aparelhos aéreos não-tripulados chamados de “drones”, os comandos americanos inegavelmente dispõem de uma supremacia inquestionável na atualidade.
Porém, lembra Dunnigan, as lições do passado continuam sendo importantes, e uma delas é que o uso de comandos só funciona adequadamente se forem empregados em pequeno número, para tarefas bem definidas. Sob essa perspectiva, portanto, o presidente dos EUA, Barack Obama, comete um grave erro ao aumentar significativamente os efetivos americanos no Afeganistão, porque além de tirar a objetividade das operações numa região cuja logística é um enorme desafio, aumenta a quantidade de alvos que podem ser atacados pelos terroristas que agem no país.
Merece destaque ainda a apresentação do livro, escrita pelo General de Brigada na Reserva Álvaro de Souza Pinheiro, que relata a organização histórica e contemporânea das Forças de Operação Especiais do Brasil, mostrando que as forças militares brasileiras procuram fortalecer seus quadros de elite.
Certamente, este é um livro que ajuda o público a conhecer o histórico das unidades de elite ao longo dos tempos e também como funcionam as forças militares que dão suporte à chamada “guerra contra o terror”.
Ações de Comandos - Operações especiais, comandos e o futuro da arte da guerra norte-americana
Autor James F. Dunnigan
Editora Biblioteca do Exército Editora 2008. 340 páginas
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