Cada vez mais frequentes, os ataques de
hackers chineses contra pessoas e instituições americanas começam a ganhar
contornos políticos – capazes até de arranhar as relações entre os dois países.
Mais de 140 ataques cibernéticos nos últimos anos tiveram sua origem numa
unidade militar chinesa em Xangai, revelou ontem um relatório da empresa de
segurança digital americana Mandiant, baseada na Califórnia.
Os dados da Mandiant conectam o grupo hacker APT1 (sigla de “ameaça
persistente avançada”, em inglês) ao comando do Exército de Libertação Popular
(ESP) – as Forças Armadas da China. O APT1 seria a chamada Unidade 61398, um
órgão militar de atividades secretas instalado num edifício de 12 andares em
Xangai.
O trabalho de contraespionagem dos americanos rastreou os ataques, chegando
ao endereço, no distrito de Pudong, no centro financeiro e bancário da China.
Lá, de acordo com o relatório, trabalham centenas – ou mesmo milhares – de
pessoas com competências técnicas de programação e gerenciamento de redes, além
de fluência em inglês, um perfil necessário para a realização dos
ciberataques.
“O caráter do trabalho da Unidade 61398 é considerado pela China segredo de
Estado. No entanto, acreditamos que ela está envolvida numa rede de nocivas
operações com redes de computador”, diz o relatório. “Já é hora de reconhecer
que a ameaça está vindo da China, e queremos fazer a nossa parte para combater a
ameaça efetivamente.”
A unidade teria roubado “centenas de terabytes de dados de pelo menos 141
organizações de um conjunto diversificado de indústrias que começaram a operar
em 2006″. A maioria das vítimas estava em EUA, Canadá e Reino Unido. E as
informações roubadas variam entre detalhes sobre fusões e aquisições e e-mails
de funcionários de altos escalões.
Numa área da tecnologia na qual o sigilo é a regra, a denúncia ganhou peso
quando uma empresa concorrente da Mandiant, a CrowStrike, reforçou a veracidade
das denúncias. “O Exército tem papel-chave na estratégia de segurança da China,
e faz sentido que seus recursos sejam usados para beneficiar a espionagem
digital que ajuda a economia chinesa” atestou o cofundador CrowStrike, Dmitri
Alperovitch.
Pequim nega acusações
O Ministério da Defesa chinês emitiu uma nota negando as acusações – e
chamando de “amadores” os especialistas da Mandiant: “O Exército chinês nunca
apoiou qualquer atividade de hackers. Relatórios sobre o envolvimento do
Exército com ataques cibernéticos são amadores e não estão de acordo com os
fatos”, assegurou a Chancelaria chinesa.
Depois de o Facebook ter sido atacado no último fim de semana, ontem foi a
vez de a Apple revelar ter sido alvo de hackers chineses. O porta-voz da Casa
Branca, Jay Carner, alertou para um “sério desafio a segurança e economia dos
EUA”. E advertiu, sem mencionar nominalmente a China: “o presidente Obama tomará
as medidas necessárias para conter esse perigo”.
FONTE: O
Globo via Resenha do Exército
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