terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Comandante diz que forças americanas podem continuar no Afeganistão

O comandante sênior dos EUA no Afeganistão sugeriu na terça-feira que as forças americanas podem permanecer no país depois de 2014, apesar da promessa do presidente Barack Obama de retirá-las até então. As declarações do comandante representam o sinal mais enfático até agora de que as forças americanas pretendem manter uma presença no país, possivelmente por anos.
Em entrevista ao "New York Times", o comandante, general John R. Allen, evitou falar em níveis das tropas, no momento em que os EUA começa a reduzir suas operações na guerra contra a insurgência do Taleban, travada há dez anos.
Mas disse que as negociações com o governo do presidente Hamid Karzai sobre um acordo de parceria estratégica "quase certamente" vão incluir "uma discussão com o Afeganistão sobre a aparência que teria uma força pós-2014".
De acordo com Allen, "outro dia apenas, Karzai falou de seu desejo de discutir com os EUA uma força pós-2014. Provavelmente teremos algum número de assessores, treinadores e especialistas em inteligência presentes aqui por algum período de tempo após 2014".
Outros representantes dos EUA, incluindo membros da administração Obama, já disseram que 2014 não é um prazo final rígido para a retirada militar.
O embaixador dos EUA no Afeganistão, Ryan C. Crocker, disse este mês que os EUA estão abertos à possibilidade de conservar forças armadas no país, se o governo afegão o pedir. Mas Allen é o oficial militar americano de mais alto escalão até agora a ter mencionado essa possibilidade explicitamente.
Allen destacou o que descreveu como a necessidade de um engajamento militar e civil de longo prazo com o Afeganistão após 2014.
Se for seguida, sua proposta para o Afeganistão pode ajudar a evitar o resultado da outra guerra dos EUA, no Iraque, onde a instabilidade política se agravou quase imediatamente após a partida das últimas tropas americanas.
TREINAMENTO
O general também apresentou sua visão para as tropas dos EUA e da Otan nos próximos anos.
Ele prevê que a partir de 2012, mais treinadores e mentores militares virão ao Afeganistão para trabalhar com as tropas afegãs. Ainda mais devem chegar em 2013, quando as forças de segurança afegãs devem assumir mais encargos.
No momento a maioria das unidades afegãs é parceira de forças da Otan; em vários lugares, as tropas da Otan ainda exercem o papel dominante. A ideia é que a partida gradual das forças da Otan seja abrandada por algum apoio militar ocidental às forças afegãs em campo.
Ao mesmo tempo, as forças de operações especiais dos EUA, que têm forte envolvimento em muitas operações movidas por inteligência, além de operações maiores e muitas vezes mais perigosas, permanecerão nos níveis atuais ou serão aumentadas, enquanto as tropas convencionais serão reduzidas, disse Allen.
A exceção pode ser o leste do Afeganistão, onde, disse o general, "uma insurgência virulenta" ainda é um problema e onde as tropas convencionais não serão reduzidas, porque combatentes insurgentes que se refugiam no vizinho Paquistão podem deslocar-se rapidamente para o outro lado da fronteira.
Como outros representantes dos EUA já fizeram anteriormente, Allen destacou que nos próximos anos as forças afegãs vão exercer um papel muito maior e assinalou que ainda é necessário muito treinamento. "As forças indígenas precisam ser o mecanismo de derrota da insurgência inimiga", disse o general.
Ele revelou que instruiu subordinados a pressionar as forças afegãs e "acostumá-las a estar em combate, fazendo o planejamento necessário, a execução de missões, a recuperação após as operações e o partir para novas operações".
Suas declarações serviram para lembrar que, apesar de o público americano estar farto da guerra e seus custos, desde um ponto de vista militar o esforço ainda vai exigir pelo menos mais três anos. O que está muito menos claro é se o Congresso vai se dispor a destinar as dezenas de bilhões de dólares que serão necessárias.
Allen disse que, se outros países e doadores estrangeiros mantiverem uma presença no Afeganistão, como disseram que farão, as esperanças da insurgência de poder agir livremente após 2014 serão enfraquecidas, o que prejudicará sua credibilidade junto a seus seguidores.
"Logo, se você faz parte da insurgência e depende do apoio popular local, ou se você faz parte da insurgência e parte de sua doutrina vem sendo --estou brincando um pouco-- que em 1º de janeiro de 2015 será apenas o governo afegão contra a insurgência, essa doutrina está em risco."
CONTINUIDADE DO APOIO
Não está claro se outros países vão cumprir suas promessas de continuar a dar apoio ao Afeganistão. Falando reservadamente, representantes de vários países e organizações já levantaram dúvidas quanto à duração de sua permanência no Afeganistão.
É o caso especialmente de países e organizações da Europa, onde os problemas econômicos vêm reduzindo a disposição por assumir compromissos financeiros no Afeganistão ou outros lugares do mundo.
Allen insistiu que parece haver uma abertura no momento para enfraquecer a insurgência. Segundo ele, sabe-se que alguns dos membros da insurgência estariam questionando sua potência.
Ele foi cauteloso em relação a quaisquer avanços. Pareceu ter em mente que os combatentes insurgentes na guerra afegã vêm dando mostras de tenacidade.
O papel futuro do Paquistão não está claro. Por enquanto, disse Allen, ele está concentrado em reparar os danos causados às relações entre os EUA e o Paquistão depois de um ataque aéreo da Otan ter atingido dois postos de fronteira paquistaneses no mês passado, matando 25 soldados.
Desde então, a fronteira entre Paquistão e Afeganistão está fechada aos caminhões da Otan. O relacionamento entre os dois países, já profundamente prejudicado pelo ataque que matou Osama bin Laden num esconderijo no Paquistão, em maio, se agravou.
"(A guerra no) Afeganistão vai estar presente por muito tempo, e o que é crítico é que o relacionamento do Afeganistão com seus vinhos seja, no maior grau possível, construtivo e operacionalmente útil", disse Allen.

Fonte: Folha.com

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