Forças armadas são o principal fiador do poder do regime de corte stalinista governado pela dinastia Kim
AP
Kim Jong-un ao lado de carro fúnebre que carregou o corpo de Kim Jong-il
SEUL - O ato em memória de Kim Jong-il pôs fim nesta quinta-feira, 29, a era do "querido líder" e abriu a de seu filho e sucessor Kim Jong-un, proclamado "líder supremo" diante de milhares de pessoas na imensa Praça Kim Il-sung de Pyongyang.
Atento e com gesto hierático, o herdeiro do ditador esteve durante toda celebração acompanhando por altas autoridades políticas e militares do regime.
"Kim Jong-un é o líder supremo de nosso partido, do Exército e do povo por personificar as ideias e liderança, a personalidade, as virtudes, a coragem e o valor de Kim Jong-il", disse em seu discurso Kim Yong-nam, líder da Assembleia Popular Suprema, sobre o enigmático jovem que vai liderar o país.
A TV estatal "KCNA" mostrou insistentemente imagens de Kim Jong-un durante o ato, o que gerou a expectativa por alguns momentos que o novo líder, que tem menos de 30 anos, poderia pronunciar um discurso na cerimônia lançando luz sobre seus planos para governar um país isolado, imprevisível e com capacidade nuclear.
No entanto, se manteve em silêncio da mesma forma que seu pai durante a celebração fúnebre de 20 de julho de 1994, em homenagem ao fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung.
Nessa ocasião, também foi Kim Yong-nam, então vice-primeiro-ministro do regime, quem convocou o público presente na mesma praça a seguir incondicionalmente Kim Jong-il.
"Construiremos uma próspera nação socialista, mantendo em alta estima Kim Jong-un como novo general e líder supremo", proclamou nesta quinta-feira o octogenário Kim Yong-nam, atualmente número dois do regime.
Seu discurso deu indícios de que o Governo de Kim Jong-un poderia seguir a linha "do Exército primeiro" implementado por seu pai.
A este respeito, Kim Yong-nam assegurou que "sob a liderança de Kim Jong-un", a Coreia do Norte avançará "de forma mais dinâmica" no caminho do "Songun", política desenhada e aplicada pelo falecido Kim Jong-il que consiste em dar prioridade aos assuntos militares no conjunto do Estado.
Por sua vez, o general Kim Jong-gak, considerado uma das figuras emergentes nas elites militares do país comunista, pareceu despejar dúvidas sobre a possível falta de apoio das Forças Armadas ao sucessor, que não tem formação militar.
Nesse sentido, o general, de 70 anos, garantiu que os soldados do Exército Popular da Coreia do Norte "protegerão com suas próprias vidas Kim Jong-un".
As forças armadas norte-coreanas, que somam mais de 1,1 milhão de soldados em uma população total de 24 milhões de pessoas e dominam ao redor de um quarto do Produto Interno Bruto do país, são o principal fiador do poder do regime de corte stalinista governado pela dinastia Kim.
Na cerimônia desta quinta-feira, a hermética nação despediu-se de Kim Jong-il com a mesma grandiloquência da homenagem feita pela morte de seu fundador, Kim Il-sung.
Milhares de soldados e civis norte-coreanos se reuniram com ordem militar na Praça Kim Il-sung, de 75 mil metros quadrados, enquanto as autoridades ocuparam o alto do balcão da Casa de Estudo do Povo, em ato que se prolongou por algo mais de 1h, a partir das 11h (1h de Brasília).
A cerimônia conclui ao meio-dia com uma salva de tiros e os presentes guardando 3 minutos de silêncio em memória do ditador, que governou o país por 17 anos. Ele morreu aos 63 anos de ataque cardíaco em 17 de dezembro.
Deste modo, a Coreia do Norte fechou nesta quinta-feira a etapa de Kim Jong-il, que entrará para a história por incluir seu país na lista de estados com armamento nuclear e pela sua incapacidade de superar uma crise econômica que se arrasta desde os anos 90 e que obriga a população a depender da ajuda externa para alimentar-se.
Finalizado o luto e aberta uma era nova sob a mesma dinastia, serão as primeiras decisões políticas de Kim Jong-un as que revelarão o caminho de um regime baseado no desmesurado culto à personalidade dos Kim, golpeado pela escassez, ancorado no isolamento e legitimado pelas armas e a propaganda.
Fonte: O Estadão
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